Apresentação

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O Sofrimento que salva - Parte 2

Para dar exemplos de pequenos gestos que podemos oferecer a Deus para conversão dos pecadores, colocarei um trecho de vida, de uma curta vida que aprendeu a ajudar os outros com seu sofrimento e encontrou a Vida Eterna. Trata-se aqui do caso comovente de uma criança* que ofereceu minimamente aquilo que podia, carregando a Cruz a que podia carregar. Cada um deve fazer o mesmo, segurar a própria Cruz e abraçá-la, que não é maior que aquilo que podemos suportar. Cada um tem a sua Cruz!


"Na Cruz de Cristo, na união redentora com Ele, no aparente fracasso do Homem justo que sofre e com o seu sacrificio salva a humanidade, no valor de eternidade desse sofrimento está a resposta. Voltai o olhar para Ele, para a Igreja e para o mundo, e elevai o vosso sofrimento completando nele, hoje, o mistério salvífico da sua cruz (João Paulo II, Saragoça, 06.11.1982)"






"Passavam assim os dias da Jacinta, quando Nosso Senhor
mandou a pneumónica, que a prostrou em cama, com seu Irmãozinho
 Nas vésperas de adoecer dizia:
– Dói-me tanto a cabeça e tenho tanta sede! Mas não quero
beber, para sofrer pelos pecadores.

Quando eu(Lucia) ia primeiro ao quarto dela, dizia:
Jacinta– Agora vai ver o Francisco; eu faço o sacrifício de ficar aqui
sozinha.
Um dia, sua mãe levou-lhe uma xícara de leite e disse-lhe que
o tomasse.
Jacinta– Não quero, minha mãe – respondeu, afastando com a mãozinha
a xícara.
Minha tia ateimou um pouco e depois retirou-se, dizendo:
– Não sei como Ihe hei-de fazer tomar alguma coisa, com tanto
fastio!
Logo que ficámos sós, perguntei-lhe:
Lúcia– Como desobedeces assim a tua mãe e não ofereces este
sacrifício a Nosso Senhor?
Ao ouvir isto, deixou cair algumas lágrimas, que eu tive a felicidade
de limpar, e disse:
Jacinta– Agora não me lembrei!
E chama pela mãe, pede-lhe perdão que toma tudo quanto ela
quiser. A mãe traz-lhe a xícara do leite; toma-o sem mostrar a mais
leve repugnância. Depois, diz-me:
– Se tu soubesses quanto me custou a tomar!
Em outra ocasião, disse-me:
– Cada vez me custa mais a tomar o leite e os caldos; mas
não digo nada. Tomo tudo por amor de Nosso Senhor e do
Imaculado Coração de Maria, nossa Mãezinha do Céu.

Perguntei-lhe um dia:
Lucia– Estás melhor?
Jacinta– Já sabes que não melhoro.
E acrescentou:
– Tenho tantas dores no peito! Mas não digo nada; sofro pela
conversão dos pecadores.
Quando, um dia, cheguei junto dela, perguntou-me:
Jacinta– Já fizeste hoje muitos sacrifícios? Eu fiz muitos. Minha mãe
foi-se embora e eu quis ir muitas vezes visitar o Francisco e não fui.

Visita de Nossa Senhora

Recuperou, no entanto, algumas melhoras. Pôde ainda levantar-
se e passava, então, os dias sentada na cama do irmãozinho.
Um dia mandou-me chamar: que fosse junto dela depressa.
Lá fui, correndo.
Jacinta– Nossa Senhora veio-nos ver e diz que vem buscar o Francisco
muito breve para o Céu. E a mim perguntou-me se queria
ainda converter mais pecadores. Disse-Lhe que sim. Disse-me que
ia para um hospital, que lá sofreria muito; que sofresse pela conversão
dos pecadores, em reparação dos pecados contra o
Imaculado Coração de Maria e por amor de Jesus. Perguntei se tu(Lucia)
ias comigo. Disse que não. Isto é o que me custa mais. Disse que ia
minha mãe levar-me e, depois, fico lá sozinha!
Depois, ficou algum tempo pensativa. Depois, acrescentou:
Jacinta– Se tu(Lucia) fosses comigo! O que mais me custa é ir sem ti. Se
calhar, o hospital é uma casa muito escura, onde não se vê nada;
e eu estou ali a sofrer sozinha! Mas não importa, sofro por amor de
Nosso Senhor, para reparar o Imaculado Coração de Maria, pela
conversão dos pecadores e pelo Santo Padre.
Quando chegou o momento de seu irmãozinho partir para o
Céu (21), ela fez as suas recomendações:
Jacinta– Dá muitas saudades minhas a Nosso Senhor e a Nossa
Senhora e diz-Lhes que sofro tudo quanto Eles quiserem, para
converter os pecadores e reparar o Imaculado Coração de Maria.
Sofreu muito com a morte do irmão. Ficava por muito tempo
pensativa; e se se Ihe perguntava no que estava a pensar, respondia:
– No Francisco. Quem me dera vê-lo!
E os olhos arrasavam-se-lhe de lágrimas.
Um dia, disse-lhe:
Lucia– A ti já te falta pouco para ires para o Céu; mas eu!
Jacinta– Coitadinha! Não chores. Lá, hei-de pedir muito, muito, por ti.
Tu, é Nossa Senhora que quer assim. Se me quisesse a mim, ficava
contente, para sofrer mais pelos pecadores.

No hospital de Ourém
Chegou também o dia de ir para o hospital (22), onde, na verdade,
teve muito que sofrer. Quando a mãe a foi visitar, perguntou-
-lhe se queria alguma coisa. Disse-lhe que queria ver-me(Lucia). Minha
tia, ainda que com inúmeros sacrifícios, lá me levou, logo que pôde
voltar. Logo que me viu, abraçou-me com alegria e pediu à mãe
que me deixasse ficar e fosse a fazer compras. Perguntei-lhe, então,
se sofria muito.
Jacinta– Sofro, sim; mas ofereço tudo pelos pecadores e para reparar
o Imaculado Coração de Maria.
Depois falou com entusiasmo de Nosso Senhor e de Nossa
Senhora e dizia:
– Gosto tanto de sofrer por Seu amor! Para dar-Lhes gosto! Eles
gostam muito de quem sofre para converter os pecadores.

Novas visitas de Nossa Senhora

De novo a Santíssima Virgem se dignou visitar a Jacinta, para
Ihe anunciar novas cruzes e sacrifícios. Deu-me a notícia e dizia-
-me:
Jacinta– Disse-me que vou para Lisboa, para outro hospital; que não
te torno a ver, nem os meus pais; que, depois de sofrer muito,
morro sozinha, mas que não tenha medo; que me vai lá Ela a buscar
para o Céu.
E chorando, abraçava-me e dizia:
– Nunca mais te torno a ver. Tu lá não me vais a visitar. Olha,
reza muito por mim, que morro sozinha.
Até que chegou o dia de ir para Lisboa, sofreu horrivelmente!
Abraçava-se a mim e dizia, chorando:
– Nunca mais te hei-de tornar a ver?! Nem a minha mãe, nem
os meus irmãos, nem o meu pai?! Nunca mais hei-de ver ninguém?!
E depois morro sozinha!
Lúcia– Não penses nisso – Ihe disse um dia.
Jacinta– Deixa-me pensar, porque, quanto mais penso, mais sofro; e
eu quero sofrer por amor de Nosso Senhor e pelos pecadores. E
depois não me importo! Nossa Senhora vai-me lá a buscar para o
Céu.
Às vezes beijava um crucifixo e, abraçando-o, dizia:
– Ó meu Jesus, eu Vos amo e quero sofrer muito por Vosso
amor.
Outras vezes dizia:
– Ó Jesus, agora podes converter muitos pecadores, porque
este sacrifício é muito grande!
Perguntava-me, às vezes:
– E vou morrer sem receber a Jesus escondido(Hóstia)? Se m’O levasse
Nossa Senhora, quando me for a buscar!...

Perguntei-lhe uma vez:
Lucia– Que vais a fazer no Céu?
Jacinta– Vou amar muito a Jesus, o Imaculado Coração de Maria,
pedir muito por ti, pelos pecadores, pelo Santo Padre, pelos meus
pais e irmãos e por todas essas pessoas que me têm pedido para
pedir por elas.

Quando a mãe se mostrava triste por a ver tão doentinha dizia:
– Não se aflija, minha Mãe: vou para o Céu. Lá hei-de pedir
muito por si.
Outras vezes, dizia:
– Não chore, eu estou bem.
Se Ihe perguntavam se precisava de alguma coisa, dizia:
– Muito obrigada, não preciso nada.
Quando se retiravam, dizia:
–Tenho muita sede, mas não quero beber; ofereço a Jesus
pelos pecadores.
Um dia que minha tia me fazia algumas perguntas, chamou-me
e disse-me:
– Não quero que digas a ninguém que eu sofro; nem à minha
mãe, porque não quero que se aflija.

Um dia, encontrei-a abraçando uma estampa de Nossa Senhora
e a dizer:
– Ó minha Mãezinha do Céu, então eu hei-de morrer sozinha?
A pobre criança parecia assustar-se com a ideia de morrer
sozinha. Para a animar, dizia-lhe:
Lucia Que te importa morrer sozinha, se Nossa Senhora te vai a
buscar?
Jacinta– É verdade! Não me importa nada. Mas não sei como é; às
vezes não me lembro que Ela me vai a buscar, só me lembro que
morro sem tu(Lucia) estares ao pé de mim.

(Trata-se do diálogo entre Lúcia e Jacinta do livro "Memórias de Irmã Lúcia I"
Jacinta tinha 10 anos e Lúcia 13)
Jacinta, ao sete anos.

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